Anathema




Bem... por onde começar? Que os caras são simplesmente geniais é mais do que clichê. Que os caras são um dos meus artistas favoritos e mais queridos entre todos, senão o mais de todos, também é clichê do maior expoente, já que são muitos que tem o Anathema como sua banda de cabeceira. Mas é claro que é minimamente recomendável que faça uma apresentação sobre os rapazes e diga por que esse post veio a vida.

Suas raízes remotam dos idos de 1990, na histórica cidade de Liverpool, sob o nome de Pagan Angel, quando os irmãos Vincent e Daniel Cavanagh se juntaram ao seu outro irmão James, o baixista Duncan Patterson e o batera John Douglas para se dedicar ao metal extremo que eclodia em ambos os lados do hemisfério naquela época. Mas na mesma Inglaterra havia também uma outra verve, essa seguindo uma sonoridade mais densa, lenta e melancólica, derivada do Candlemass e Black Sabbath, e foi para esses outros caminhos que o Anathema foi se dirigindo com o passar dos meses, criando o protótipo do que viria a se tornar seu majestoso trabalho.

Pode-se dizer que o seu primeiro trabalho mais a sério, de fato, foi o EP the Crestfallen, lançado no ano de 1992. Nele, torrentes corrosivas de melancolia e peso sonoro são jorrados sem dó sobre os tímpanos do "pobre" ouvinte, trazendo um mundo sombrio e tortuoso, mas intrinsecamente belo, às suas mentes. Não tardou muito para seu primeiro full-length, Serenades, vir a tona também, auxiliado ele pelo sucesso de nomes como My Dying Bride, Paradise Lost e Cathedral que já bombavam na cena britânica naqueles idos. Este álbum segue mais ou menos a mesma linha do EP antecessor, talvez um pouquinho mais polido, e dele veio um dos clássicos da banda, a música Sleepless.

A partir de 1994 e 1995, repara-se a primeira (ou segunda) das curvas no direcionamento da banda. Seu som, outrora sujo e pestilento, torna-se mais melodioso e refinado, embora ainda mais melancólico e excruciante. Se o EP Pentecost III já foi um prelúdio dessa mudança (culminando, inclusive, com a saída do vocal Darren, deixando as cordas vocais totalmente a cargo do Vincent agora), ela veio a se metamorfosear por completo no seminal The Silent Enigma. Raras vezes eu vi (ou melhor, ouvi) um álbum que conseguisse transmitir melancolia, peso, soturnidade e romantismo de forma tão sincera, pulsante e valendo-se de todos os seus clichês com uma maestria que só pode ser explicada pelas mãos, puramente, do talento!

Falando em curvas de evolução, este CD também assinala uma delas. Talvez a de maior raio e ângulo entre todas de sua carreira. O sucessor do TSE, o Eternity, já mostra uma veia muito distante daquilo que a banda fazia. Abrandando o peso metálico que permeou seus 6 primeiros anos de estrada, a banda começa a caminhar por uma floresta ainda escura, só que mais psicodélica e envolvente, imersa numa atmosfera asfixiante mas que lhe envolve calmamente e docemente até tragar-lhe para um void (referência não-intencional a nossa querida cibs, oi) de agonia sem qualquer sinal de luz ou alento. E é nessa trilha que segue o que, talvez, seja a melhor sequência de álbuns já lançados na história, constituídos ele pelo próprio Eternity, Alternative 4 (1998) e Judgement (1999). Vale lembrar ainda que, após o lançamento do Alternative 4, o baixista Duncan Patterson deixa a banda alegando as famigeradas "razões pessoais" para isso. Esta parece ter sido uma grande perda para a banda, sentida até hoje, ainda mais se pensarmos que a maioria das suas composições desde a saída do Darren foram traçadas por suas mãos. Creio ainda que isso acarretou mais ainda na mudança de sua sonoridade, fato que falarei a seguir:

A partir de 2001, o Anathema retorna em grande forma com seu álbum intitulado A Fine Day To Exit. Quem começa a ouvi-lo logo repara que as veias doom-metálicas do passado foram cortadas de vez, não tendo mais nenhum elo, praticamente, entre seu histórico e seu presente. Mas em seu lugar percebe-se um Rock Prog/Alternativo da mais fina qualidade, remetendo diretamente a nomes como Radiohead e Pink Floyd e, por que não, já alguma coisa de Post-Rock que vinha começando a tomar vida e se desenvolvendo pelo mundo a fora. Este álbum mostra-se menos obscuro que os antecessores, e é perceptível uma temática comum nas suas letras. Todas elas parecem ser um retrato da decepção com a vida cotidiana e consigo mesmo e o desejo do escapismo, de pegar uma estrada empoeirada ou ir para uma praia deserta e se livrar de tudo que o assola. Logo depois, veio o A Natural Disaster, álbum esse que segue uma linha próxima do anterior embora, essencialmente, diferente. Nele temos alguns clássicos "modernos" da banda, como a heart-crying Are You There?, a instigante Pulled Under At 2000 Meters A Second e a bela voz da Lee Douglas, irmã do baterista John, conduzindo as linhas líricas da faixa-título.

Tá, mas... de 2003 a 2010, passaram-se 7 anos. O que aconteceu nesse meio tempo? Difícil definir sucintamente, mas a banda parece ter perdido o contrato com a gravadora e passou por séries dificuldades, lançando algumas músicas novas em seu website nos idos de 2006/2007 a fim de levantar grana para gravarem seu CD novo independentemente. Desde então, várias músicas inéditas circularam pelos guetos virtuais, vindas de bootlegs e programas de rádio, dentre fontes ainda mais obscuras. Embora alguns fãs - dentre eles, eu mesmo - já estivessem perdendo a fé que algum álbum novo deles viria mesmo a vida, eis que, então, ele nasceu!!

Batizado de "We're Here Because We're Here", nele residem 10 faixas belíssimas, maduras e inteligentes. Sua sonoridade parece ter tomado um rumo ligeiramente diferente em relação aos demais CD's, pois nota-se que a melancolia cortante de outrora parece aliviada e tratada, e matizes de Post-Rock são usados mais frequentes do que nunca. Apesar de estar ainda na segunda ouvida do álbum, é indiscutível sua qualidade estratosférica e ver que, apesar de tantos problemas e 20 anos já de estrada, a banda ainda tem motivação e talento para se renovar e revitalizar, vindo isso na forma de nomes como da doce Everything, da viajante A Simple Mistake, da encantadora Dreaming Light e da inspiradíssima Hindsight, que fecha o CD com chave d'ouro.

Bem, já falei até demais. Escrevi praticamente tudo de brainstorm, dada a falta de tempo e a empolgação suprema com o CD que, depois de tantos éons, finalmente veio a luz! Sem mais delngas, aproveitem-o!

[edit by: Carlos]


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[2010] We're Here Because We're Here

01 - Thin Air
02 - Summernight Horizon
03 - Dreaming Light
04 - Everything
05 - Angels Walk Among Us
06 - Presence
07 - A Simple Mistake
08 - Get Off, Get Out
09 - Universal
10 - Hindsight


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2 comentários:

R. Borges disse...

Baixei ontem... Katatonia feelings :/

P. Ramos disse...

Exato, Katatonia feelings total! Tá muito bom esse cd, lastimável que eu só tenha vindo a conhecê-los há 1 ano somente... Obrigada por compartilhar!