Fleurety




Como a grande maioria das pessoas que passam por esse blog todos os dias devem saber ou imaginar, sempre existe um grande número de artistas que, em seu meio, nunca conseguiram um destaque muito grande (ou destaque nenhum) devido a uma série de fatores que não a sua capacidade criativa e seu talento. Circunstâncias do momento, conflitos internos entre as pessoas do meio e, principalmente, falta de divulgação adequada são alguns desses, diria até que são os mais influentes. Outro fator que pode ser apontado é, também, um despreparo por parte do público em aceitar e assimilar o que o artista em questão fez, devido a sua complexidade ou por se tratar de algo totalmente inesperado e diferente do que é concebível no momento, fato que pode deixá-lo relegado ao oblívio ainda que, num futuro a médio-longo prazo, seu trabalho passe a ganhar contornos cults e passa, então, a ser apreciado por um público seleto capaz de comrpeender o que ali foi feito. Claro que as intenções e veracidade da opinião desse público muitas vezes é duvidável, mas não deixa de ser um reconhecimento, de todo modo. E é nessa segunda categoria que disse que se encaixa a banda que vos posto agora, de nome Fleurety.

Fundada em 1991 nas terras norueguesas por Svein Egil Hatlevik e Alexander Nordgaren, sob a plena ebulição da cena Black Metal no país, o Fleurety não segue uma linha muito diferente e se dedica aquele som cru, ríspido e gélido, valendo-se de todos os clichês e elementos que tanto caracterizaram (e ainda caracterizam) o gênero, lançando a demo Black Snow e um 7" EP chamado Darker Shade Of Evil em 1993 e 1994, respectivamente. Apesar da sonoridade ainda bem crua e a produção deplorável, percebe-se que existem nesses trabalhos alguns toques e ingrediantes diferenciados, ainda que carecessem de uma maior lapidação. E isso, então, veio com seu primeiro full-length, sob o nome de Min Tid Skal Komme (Minha Morte Virá, em norueguês. fonte: google translator), que particularmente considero a obra-prima da banda.

Este álbum é considerado por muitos (inclusive por eu mesmo) um ponto de inflexão da curva que mostra a transgressão do Black Metal tradicional ao chamado Avantgarde Metal, junto com o trabalho do Ved Buens Ende. Nele, a banda transcende os limiares e raio de alcance desse Black Metal primitivo a uma esfera sônica bem mais ampla, polida e bem lapidada, valendo-se de uma gama de elementos antes nunca usadas em fusão com o gênero. Guitarras com timbres mais limpos com direito a passagens acústicas e tremolos que remetem ao Shoegaze , assinaturas incomuns de tempo, harmonias quebradiças ao melhor estilo do 70's Prog Rock e do Jazz, vocais femininos de contornos quase-operáticos em vários momentos e toques muito bem contextualizados de psicodelia, Dark Ambient e Lounge. Tudo isso envolto sob a aura e enraizado na estética Black Metal, sem que para isso haja uma total desfiguração e torne as músicas numa massa sonora amorfa e impalatável, como aqueles não iniciados (ou não muito habituados) ao subgênero podem imaginar.

É uma pena, sinceramente, que tal trabalho só seja conhecido e considerado por aqueles mais aficcionados de gêneros obscuros e esquisitos do Metal e ainda assim, sem o mesmo status e reconhecimento de um Arcturus, Ulver e Borknagar, por exemplo. Não que estes não mereçam (pois merecem muito, de fato), mas muito do que viria a se tornar o hoje alcunhado Avantgarde Metal simplesmente não seria se este álbum aqui não fosse feito. Considero este CD uma pérola esquecida e pouco admirada que realmente faz jus ao rótulo que carrega, recomendado para qualquer um que diga apreciar e admirar os gêneros menos ortodoxos do Metal e até mesmo da música como um todo.

And that's all, folks. ;)


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[1995] Min Tid Skal Komme

01 - Fragmenter Av En Fortid
02 - En Skikkelse In Horizonen
03 - Hvilelos?
04 - Englers Piler Han Ingen Brodd
05 - Fragmenter Av En Fremtid


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